Jacques Vallée e o Enigma dos OVNIs: Uma Jornada de Seis Décadas
- João Cutrim
- 15 de out. de 2024
- 4 min de leitura

Jacques Vallée, renomado cientista da informação e ícone no estudo dos OVNIs, passou mais de seis décadas investigando o que chama de “o fenômeno”. Mesmo após percorrer o mundo em busca de respostas, ele admite que não sabe exatamente o que são os OVNIs, mas tem uma certeza: a verdade é muito mais estranha do que imaginamos.
Durante um almoço em 2018, Vallée compartilhou com Max Platzer, editor de uma importante revista de aeronáutica, a história de um misterioso pedaço de metal. Esse fragmento foi recuperado após um evento inexplicável ocorrido em Council Bluffs, Iowa, em 1977, quando um objeto luminoso foi avistado sobrevoando um parque e deixando para trás uma poça de metal incandescente.
O material intrigava Vallée. Embora as análises da época mostrassem que o metal era composto principalmente de ferro com traços de outros elementos, sua origem permanecia um mistério. Não era resíduo de satélite ou destroços de avião, pois nenhum desses teria alcançado a temperatura necessária para derreter o material. Além disso, não havia evidência de impacto ou crateras, descartando a hipótese de um meteorito.
Junto com Garry Nolan, professor de patologia na Stanford, Vallée decidiu usar técnicas modernas para investigar o metal. Nolan, especialista em analisar células, aplicou essas mesmas ferramentas ao fragmento, explorando sua composição atômica e isotópica. O objetivo era determinar se o material era terrestre ou de origem desconhecida, talvez até extraterrestre.
Ao longo de sua longa carreira, Vallée contribuiu para importantes avanços científicos e tecnológicos. Ele ajudou a NASA a mapear Marte, desenvolveu o primeiro banco de dados eletrônico para pacientes de transplante de coração e trabalhou no precursor da internet, o Arpanet. Apesar dessas contribuições, sua fascinação pelos OVNIs sempre esteve presente, alimentada por uma série de experiências pessoais e investigações ao longo dos anos.
Vallée é considerado um pensador profundo, com uma abordagem única ao fenômeno OVNI. Ele rejeita as explicações simplistas de naves espaciais extraterrestres, argumentando que o fenômeno é muito mais complexo. Em sua visão, os OVNIs podem não ser "veículos intergalácticos", mas algo que desafia as noções tradicionais de realidade. Ele acredita que essas aparições podem estar relacionadas a algo muito mais enigmático, envolvendo dimensões além das nossas.
Desde jovem, Vallée se interessou pelo assunto. Em 1954, aos 15 anos, ele testemunhou um disco cinza sobrevoando silenciosamente uma catedral gótica em sua cidade natal na França. Esse evento marcou o início de sua busca incessante por respostas. Naquela época, a Europa estava experimentando uma onda de avistamentos de "discos voadores", o que estimulou ainda mais sua curiosidade.
Vallée estudou matemática na Sorbonne e, durante esse período, foi profundamente influenciado por Aimé Michel, filósofo que teorizou que os avistamentos de OVNIs seguiam padrões geométricos. Essa abordagem científica e matemática de Michel fascinou Vallée, que iniciou sua própria análise de dados ufológicos.
Em 1963, Vallée mudou-se para os Estados Unidos, onde trabalhou ao lado de J. Allen Hynek, consultor científico do famoso Projeto Blue Book da Força Aérea dos EUA. Ele ajudou a desenvolver uma base de dados para catalogar avistamentos de OVNIs, sendo um dos primeiros a aplicar ferramentas computacionais na análise de fenômenos anômalos. Hynek e Vallée formaram uma dupla que trouxe rigor científico ao estudo dos OVNIs, mas Vallée logo percebeu que os padrões geométricos propostos por Michel não se sustentavam.
Vallée se destacou por sua abordagem multidisciplinar, incorporando tanto dados científicos quanto culturais em sua investigação dos OVNIs. Ele vê o fenômeno como uma fronteira tanto científica quanto social, que exige uma compreensão equilibrada de números, algoritmos e o impacto cultural. Ele acredita que as experiências relatadas por testemunhas não devem ser descartadas, pois elas fornecem informações valiosas sobre o fenômeno.
Ao longo de sua carreira, Vallée catalogou cerca de 500 eventos anômalos. Ele investigou casos que vão desde o famoso sequestro de Betty e Barney Hill até encontros misteriosos em campos de lavanda na França. Curiosamente, ele se descreve como o único ufólogo que não sabe o que os OVNIs são. Ele rejeita a ideia de que sejam apenas naves espaciais e acredita que a verdade por trás do fenômeno é muito mais complexa, desafiando nossa compreensão da física e da realidade.
Em 1967, Vallée publicou "Passaporte para Magonia", um livro que explora as semelhanças entre avistamentos de OVNIs e lendas folclóricas antigas, como as histórias de fadas na Europa medieval. Ele sugeriu que os OVNIs podem ser uma manifestação moderna de um fenômeno muito mais antigo, que interage com a psique humana de maneiras complexas.
Para Vallée, o estudo dos OVNIs envolve uma mistura de dados concretos e o reconhecimento de que o fenômeno também opera em um nível simbólico, afetando profundamente a imaginação humana. Ele teoriza que os OVNIs podem ser parte de um “sistema de controle” que manipula nossas percepções da realidade, mas o propósito desse sistema ainda é desconhecido.
Mesmo com a publicação de diversos artigos e livros sobre o tema, Vallée se mantém cauteloso em suas conclusões. Ele acredita que o fenômeno OVNI pode estar relacionado a um segredo maior sobre a própria consciência humana, sugerindo que há algo no modo como experimentamos a realidade que ainda não compreendemos completamente.
Jacques Vallée, aos 82 anos, continua a investigar o fenômeno com o mesmo rigor científico que o definiu desde o início de sua carreira. Ele vê os OVNIs como uma chave para entender não apenas o universo físico, mas também a própria natureza da percepção e da consciência humana. Para ele, o estudo sério dos OVNIs é um campo promissor que pode revelar verdades surpreendentes sobre a nossa realidade.
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